sábado, 14 de junho de 2008

Irreverência e bastante humor


Por Flávio Augusto Ribeiro

Desobedeça! Esse é o tom de protesto do bloco caricato “Tem Nada a Ver” que nos tempos áureos do carnaval timotense, já chegou a levar 50 mil pessoas para Alameda 31 de Outubro. O bloco usa roupas pretas, faixas com conteúdo crítico e é sempre acompanhado pelo som de marchas fúnebres interpretadas por músicos da região. Este ano (2008), o tema foi “100% 171”, em alusão ao período eleitoral e, segundo os organizadores do bloco, mais de 400 pessoas participaram da 28ª. edição do desfile em Timóteo.
Os moradores da cidade aguardam com expectativa o tradicional desfile do “Tem Nada a Ver” que é marcado sempre pelo bom humor dos integrantes do bloco. Políticos, entidades públicas e empresas privadas não escapam dos olhos atentos dos foliões que traduzem as insatisfações de uma audaciosa e irreverente.

Um bloco de resistência

Com a intenção de chamar a atenção do público para o 28ª desfile os membros do bloco fizeram uma “chamada geral” pelos bairros da cidade e, de acordo com os organizadores, cerca de 10 mil pessoas participaram do desfile. O artista plástico Oribes Cabral é o presidente do bloco e, com orgulho, ele conta como surgiu o bloco: “gosto muito de carnaval, tudo começou na minha casa e as escolas de samba “Unidos do Quitandinha” e “Os Bocas Brancas” também nasceram nas imediações de onde moro.”
Segundo o poeta Roberto Pereira, mais conhecido como Beto Poeta, o “Tem Nada a Ver” já surgiu com o objetivo de ser o porta-voz de críticas sociais. “No início da década de 80, quando o bloco foi fundado, o Brasil ainda vivia a ditadura e não era possível fazer criticas. Começamos com sátiras em cima do cenário político da região e até hoje carregamos esse estilo” afirma.

De acordo com Oribes Cabral, o tema deste ano foi escolhido em função das eleições: “por ser um ano político vamos ouvir muitas mentiras e falsas promessas e entramos na avenida fazendo críticas contra os órgãos públicos, empresas, associações comerciais e clubes”.
“O bloco funciona como porta-voz dos trabalhadores massacrados, que não têm coragem de se expôr com medo de perder o trabalho. Trazemos para a avenida a voz dos injustiçados que buscam justiça em todo segmento social”, completa Beto Poeta. Segundo os organizadores, dois motivos explicam o tempo de existência do bloco - o apoio da comunidade e a angariação de recursos financeiros. “O Tem Nada a Ver” também existe pela nossa garra e de sempre mostrarmos as injustiças que acontecem na nossa cidade e no nosso país. Se não fosse por isto, o bloco não existiria mais”, afirma Oribes.

Futuro

O presidente do bloco informou que o custo para desfilar na avenida este ano girou em torno de R$ 10 mil. Uma das medidas a serem tomadas pelos integrantes do bloco para tentar diminuir os custos é a profissionalização. “Queremos nos estruturar com computadores e máquinas de costura para confeccionarmos nossas camisas e ternos. Pretendemos vender camisas do bloco e fazer mais desfiles durante o ano”, revelou. No dia 1º de Maio, o bloco apresentou o tema “1ª DesMaio” e no próximo 7 de Setembro o tema será “7 de Setenebroso”.
Oribes Cabral recorda que na “era de ouro” do carnaval timotense, a cidade chegava a atrair cerca de 50 mil foliões. Para ele, o fim das comemorações trouxe prejuízos financeiros para a cidade: “imagine se cada pessoa gastasse, no mínimo, R$ 500 reais em Timóteo durante o carnaval? Quando não tem festa os moradores acabam gastando fora e ainda tem o risco de acidentes nas estradas”. Segundo Beto Poeta, o desfile é uma tentativa de resgatar a cultura timotense, “o carnaval nunca deveria ter acabado e quem ficou prejudicada foi a população”.
A idéia de desfilar uma semana após o carnaval foi mais uma maneira encontrada pelos integrantes do bloco para criticar o fim da festa na cidade. “Desde o ano passado decidimos desfilar no primeiro sábado depois da folia para fazer, de fato, o enterro do carnaval de Timóteo”, finalizou o presidente do bloco “Tem Nada a Ver”.


Foto: Acervo de beto poeta e do bloco caricato tem nada a ver.

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