sábado, 14 de junho de 2008

Travessa Intendente Gravatá


Por Fábio Junio

A cidade de Coronel Fabriciano chega aos 60 anos com a responsabilidade de ser a primeira do Vale do Aço, região que se desenvolveu economicamente por ser rota da estrada de ferro Vitória-Minas. Atualmente, é considerada uma das principais vias de escoamento da produção siderúrgica de Minas Gerais.
Uma zona metalúrgica formada por pessoas que vieram fazer a história da jovem, porém, promissora região. Estes carregam o berço cultural da cidade e são narradores de contos de um bairro, de uma rua e até mesmo de um simples beco.
Uma rua estreita, sem saída e imprópria para o trânsito possui, às vezes, uma riqueza histórica que não está nos livros mas, que trouxe contribuições para a cultura de uma comunidade.
Um bom exemplo é a Travessa Intendente Gravatá, localizada no bairro Nazaré, em Coronel Fabriciano. Um lugar que há quatro décadas conta muitas histórias. Há 44 anos, Maria das Dores Martins deixou a cidade onde morava, Fernandes Estourinho, para tentar ganhar a vida no Vale do Aço. “Quando aqui cheguei não havia uma casa e era tudo pasto. Os moradores utilizavam o trajeto de onde hoje é o beco para chegarem mais rápido à rodovia. Aos poucos foram sendo construídos os barracões em torno da travessa, a cidade cresceu e o beco ficou”, lembra. Dona Maria conta que foi na Travessa Intendente Gravatá que ela criou nove filhos e que agora vê os netos brincarem felizes pelas ladeiras do beco.
O local é privilegiado e a travessa cruza a Rua Duque de Caxias, localizada bem no centro da cidade. Além disso, na década de 80, a zona boêmia do município ficava no bairro Nazaré. O local era conhecido pelos freqüentadores da travessa como “Chiquein”, uma galeria com vários bares.
A famosa travessa também faz parte da vida de outros personagens. D. Joaquina, que hoje tem 44 anos, conta como o beco Gravatá deixou boas recordações na vida dela. “Lembro-me quando havia um forró no beco e até moradores de outros bairros da cidade vinham para dançar e se divertir. Vez ou outra havia algumas brigas, mas nada que tirasse o brilho do local”, conta com nostalgia. Joaquina revelou que conheceu o marido dela naquele beco e que presenciou uma grande amiga ser carregada no colo, pelo noivo, até o altar da igreja.
Entretanto, a Travessa Intendente Gravatá já não é mais a mesma. Atualmente, a criminalidade mancha todo o glamour de outrora. Bêbados perambulam pelo beco e drogados usam o local para o tráfico de drogas. Outro aspecto negativo do beco são as várias construções da década de 1950 que estão em ruínas. Um rico patrimônio histórico de Coronel Fabriciano está, lentamente, sendo destruído pela ação do tempo sem que nada seja feito para recuperá-lo.
Com o objetivo de tentar incentivar as autoridades municipais a preservarem o patrimônio histórico da cidade, o arquiteto Wilkinson Neves, 26 anos, elaborou o projeto Fragmentos Históricos. Neste trabalho ele fotografou as construções mais antigas do município. “Coronel Fabriciano está, aos poucos, se transformando em uma cidade sem cara. Muitos prédios antigos foram derrubados e outros estão completamente abandonados. Há uma forma de fazer construções modernas sem danificar as construções antigas”, observou. O arquiteto disse que pretende promover uma exposição das fotos do projeto para tentar sensibilizar os moradores e as autoridades de Coronel Fabriciano para que não deixem belas histórias, como as vividas na Travessa Intendente Gravatá, se transformarem em poeira.

Nenhum comentário: